segunda-feira, outubro 30, 2006

Dedicatória de Vida...


Na encosta floresce a urze,
A giesta fita-a em tufos acastanhados
Quem se lembra hoje de como em Maio
Os bosques estavam de verde banhados?

Quem sabe ainda como é o canto do melro,
Como soava a chamada do cuco?
O que antes soou tão encantador e belo
Está já esquecido e caduco.

No bosque a grande festa da noite de Verão,
A lua cheia sobre o monte além,
Quem foi que as descreveu, que as fixou?
Tudo foi disperso, tudo debandou.

Em breve também de ti e de mim
Ninguém se lembrará e terá o que contar
Vivem já outras pessoas aqui
Não haverá a quem possamos faltar.

Pela estrela da tarde e as primeiras neblinas
Iremos então aguardar,
De bom grado no imenso jardim da Deus
Iremos florescer e murchar.


(Poema de Hermann Hesse)
e, são dele ainda as palavras:
"À medida que conquistamos a maturidade tornamo-nos mais jovens. Comigo passa-se isso mesmo...pois mantive sempre o mesmo sentimento perante a vida desde os anos de rapaz; nunca deixei de encarar a minha vida adulta e o envelhecimento como uma espécie de comédia"



Imagem Rubens de Carvalho

sexta-feira, outubro 27, 2006

Aprender a viver ...

Este foi um mimo muito especial que me foi dedicado por uma pessoa, também muito especial, por altura do meu aniversário e que só mais tarde descobri no blogue dela…
Obrigada,
Maresia_Mar


Pintura de Elisabetta Rogai

O dia nasceu envergonhado
por entre denso nevoeiro.
O sol, frágil, de luz ténue no início,
começa a ganhar força
e eis que rompe e diz:
- Bom-dia!
Desperta, lava de luz o teu rosto.
Canta baixinho uma canção,
que afaste a tristeza e o medo.
Vive este dia
de uma forma única.
Que a tua alegria seja tão real
que as próprias andorinhas
te confundam com a Primavera!
Reaprende o sabor dos frutos,
as cores das flores,
o canto das aves.
Assim, logo, ao fim do dia,
poderás dizer:
- Este dia valeu a pena!
Adormecerás com um sorriso,
terás sonhos mágicos
e terás fadas a
embalar-te os sonhos
nas suas asas!

(Poema da
Maresia_Mar)

quarta-feira, outubro 25, 2006

*O TEMPO É DE MEDO!*

Muitos já conhecem a Heloisa pela forma sue generis de escrever o seu blogue ou nos carinhosos comentários que vai deixando, como flores num jardim.
É com uma ternura muito especial, que vos deixo este Poema que faz parte dum livro que publicou e que se intitula...
– O Tempo é de MEDO! -
– O Tempo é de DOR! -

O Tempo é de Medo
O Tempo é de Dor
Perdeu-se o Respeito
Perdeu-se o AMOR!

– GELARAM-SE OS CORAÇÕES
NEGARAM-SE AS EMOÇÕES!–…

Converteu-se o TEMPO
Em Tempo de Sanções!

E, crescem as Desilusões
NA ALMA
Dos que, ainda CRÊEM,
Ser possível
Recuar
Voltar ao ‘Ponto de Partida’
E…RECOMEÇAR
A Amar
A Vida!
– O BEM -!…
…O CÉU E O SOL..
As Nuvens e a Chuva
A Neve e o Frio
Os Rios e os Mares!…

– OS LEÕES
E os PEIXES! –…

– O MUNDO NATURAL –
– O MUNDO ESPIRITUAL –

Quando, ESTE, é ‘Sinónimo’ de BEM!

Mas… O TEMPO É DE MEDO!!
O Tempo ficou Escuro
- Ensombrado -
Viciado, pelo Vírus
DA TIRANIA!
E…REINA A HIPOCRISIA!!
Por isso, O TEMPO É DE MEDO!
Apagou-se A LUZ DA ESPERANÇA!!

– OLHEMOS, O SORRISO DAS CRIANÇAS! –

- Olhemos, o Derradeiro Florir
Das ÚLTIMAS PLANTAS!

Refresquemos as Gargantas
Com as Derradeiras Gotas
DA CRISTALINA ÁGUA!…

- Olhemos, embevecidos, o Esvoaçar
DAS ÚLTIMAS AVES!
Enquanto, ELAS…’Derradeiramente’,
Volteiam nos Celestes Espaços!…
E, façamos, a nossa Derradeira Prece
Porque, O TEMPO É DE MEDO!!!

(?)Poderemos, ainda, abrir uma BRECHA
Na ‘Máquina do Tempo’
E, ver, através dela, A DERRADEIRA LUZ DA ESPERANÇA?!...

????????????????????????????????????????????????????????

– O TEMPO É DE MEDO!
– O TEMPO É DE DOR!!
– PERDEU-SE O AMOR!!!

(In *Divagando* de Heloisa )

segunda-feira, outubro 23, 2006

Depoimento

Porque há poesia inesquecível...esta foi lembrada num comentário do poema que antecedeu este…
Obrigada, NT…
 
Eis que desço
as mãos
os dedos nus
Eis que empunho
o vidro
pela face
Eis que te utilizo
e te
destruo
Eis que te construo
e te
desfaço
Eis o gume novo
desta
pedra
Eis a faca aberta
na
manhã
as árvores
ocultas
nas palavras
o couro - a violência
o trilho
a lã
Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria
da toalha
o fuso - o feltro
o fundo da memória
Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda
a espada
a sela
a sede
a vela
Eis que deponho
aquilo
que me ganha
e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto

(Poema de Maria Teresa Horta)




Art de Alberto Vargas

quarta-feira, outubro 18, 2006

Desperta-me de noite...


Desenho a carvão de Antonio Melenas (autorizado)

Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito

É rede a tua língua
Em sua teia
É vicio as palavras
Com que falas

A trégua
A entrega
O disfarce

E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes

Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo

E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales.

(Poema de Maria Teresa Horta)

domingo, outubro 15, 2006

…como uma roseira brava.

"Rose Girl" de Howard Schatz

Avancei cautelosa através das dunas. Tinha deixado o carro na estrada e aventurava-me por um caminho reconhecido.

Quantas vezes naquele local, de mãos dadas e corpos suados, tínhamos corrido em direcção ao mar?

Uma música suave fazia-se ouvir, trazida pelo vento.
Fechei os olhos e, de repente, senti a sua presença.

- Não acredito que te encontrei aqui. Não esqueceste este lugar?
- Como poderia esquecer?
– pensei, ainda incrédula pela sua presença.

- Ah…Conheço todos os teus pensamentos. Sabia que um dia virias aqui.
A sua voz tinha uma entoação doce enquanto os seus lábios tocavam o meu pescoço.

- Não sejas atrevido. Olha que nos podem ver…
Mas, sem me importar com o que acabava de dizer, deixava que o seu corpo tomasse conta do meu, e cada beijo enfraquecia a minha vontade de fugir dali.

O silêncio instalou-se para dar lugar às batidas dos nossos corpos, do nosso coração. Nem as gaivotas que voavam em círculos nos quiseram perturbar.

- Foges!? - A sua voz rouca era um lamento...

Numa gargalhada solto os cabelos que caem revoltos nos meus ombros.

Num gesto rápido, retiro a fina peça que me cobria o corpo e atiro-lha, deixando-me ficar de pé aguentando o seu olhar malicioso.

Quando os nossos corpos se uniram num frémito de paixão o grito da gaivota fez-se ouvir.

Como numa roseira brava, floresciam em nós desejos infindáveis e a entrega foi mútua, numa explosão de aromas e cores.


Quanto tempo por nós passou, meu amor,
perto de ti na imensidão do mar!

As rosas mais formosas desfolharam
e levou-as o vento pelo ar.

O meu roseiral de sonho e saudade
entreguei-o à doce claridade
do teu olhar que me ilumina ainda.



Quando corri para o mar, cabelos ao vento,ia vestida de rosas.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Parece, mas não é...




Vem,
É a primeira vez que me usas.
Mete sua mão de uma vez,
Quero sentir a grossura e o comprimento
De cada um de seus dedos,
A largura da palma de suas mãos,
Quero sentir-te até o punho.

Vem força,
Ainda sou apertada.
Faça minha pele esticar toda
As suas pregas e costuras,
Para que amanhã te sintas confortável
Quando meteres de novo.

Vem
Sinta como sou suave por dentro...
Só comigo suas mãos estarão protegidas da neve lá fora.
Vem,
Sou seu Par de Luvas

Que ganhou e ainda não usou...

(Poema de Spiritus Lupus)


Imagens Google

terça-feira, outubro 10, 2006

Pela Tai

O sorriso da Tai

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menosde me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios-
Os melhores lírios-
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda

Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.



Poema de Álvaro de Campos





A Janela da tua Vida.


Pela nossa força, a tua Força...

segunda-feira, outubro 09, 2006

Para a construção da cidade necessária


Imagem de Chico Matos in Olhares


tu
que acreditas
que a bruma
vai rasgar-se em dia aberto
tu
que acreditas
que o vento
vai quebrar-se em mar de calma

porque te ficas sentado
à janela da quimera
porque não vens para a rua
provocar a primavera

vem
vem desenhar o futuro
na morte deste presente
vem
vem mostrar a madrugada
e vem dá-la a toda a gente

tu
que adivinhas
que as nuvens
vão desfazer-se em azul
tu
que adivinhas
que a noite
vai resolver-se em luar

porque te deixas dormir
na cama da tradição
porque não fazes do sonho
o grito duma canção

vem
vem transformar o amor
até hoje inexistente
vem
vem construir a cidade
e vem dá-la a toda a gente.



Poema de Vieira da Silva

sexta-feira, outubro 06, 2006

Tenho cantado esperanças…

Óleo de William Bouguereau



Tenho cantado esperanças…
Tenho falado d’ amores…
Das saudades e dos sonhos
Com que embalo as minhas dores…

E eu cuidei que era poesia
Todo esse louco sonhar…
Cuidei saber o que é vida
Só porque sei delirar…

Eram fantasmas que a noite
Trouxe, e o dia levou…
À luz da estranha alvorada
Hoje minha alma acordou!

Esquece aqueles cantos…
Só agora sei falar!
Perdoa-me esses delírios…
Só agora soube amar



Poema"Maria" de Antero de Quental

quarta-feira, outubro 04, 2006

Anjos Caninos...

Tinha um texto preparado para o dia de hoje. Há muito que vos queria apresentar a Rita, uma linda “menina” de oito anos que me caiu em casa e que nunca mais me quis deixar…
Mas ao abrir a caixa do correio (obrigada Ema…) mudei de ideias. 

E tive que partilhar este momento…
(Farofa no dia 1 de Junho de 2006, já recuperado do abandono)

Existem pessoas que não gostam de cães,
Estas, com certeza,
Nunca tiveram em sua vida
Um amigo de quatro patas
Ou, se tiveram,
Nunca olharam dentro daqueles olhos
Para perceber quem estava ali.

Um cão é um anjo
Que vem ao mundo ensinar amor.
Quem mais pode dar amor incondicional,
Amizade sem pedir nada em troca,
Afeição sem esperar retorno,
Proteção sem ganhar nada,
Fidelidade vinte e quatro horas por dia?
Ah, não me venham com essa
De que os pais fazem isso,
Porque os pais são humanos
E quando os agredimos
Eles ficam irritados e se afastam...
Um cão não se afasta
Mesmo quando você o agride,
Ele retorna cabisbaixo
Pedindo desculpas por algo que talvez não fez
Lambendo suas mãos a suplicar perdão.



(Farofa foi recolhido na rua em Outubro de 2005, neste estado... )



Alguns anjos não possuem asas,
Possuem quatro patas, um corpo peludo,
Nariz de bolinha, orelhas de atenção,
Olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência,
São tão anjos quanto os outros (aqueles com asas)
E se dedicam aos seus humanos tanto quanto
Qualquer anjo costuma dedicar-se.
Às vezes um humano veste a capa de anjo
E sai pelas ruas a catar alguns anjos abandonados
à própria sorte,
E lhes cura as feridas, alimenta, abriga
em Só para ter a sensação de haver ajudado um anjo...
Deus quando nos fez humanos
Sabia que precisaríamos de guardiões materiais
Que nos tirasse do corpo as aflições dos sentidos
E nos permitissem sobreviver a cada dia
Com quase nada
Além do olhar e da lambida de um cão...
Que bom seria se todos os humanos
Pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!

(De Autor Desconhecido)





segunda-feira, outubro 02, 2006

Do Poema

Thodore Chassriau daqui


O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas vegetação. Nem
tão- pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes -

o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.


(Poema de Casimiro de Brito in Canto Adolescente, 1961)