sexta-feira, junho 26, 2009

Poema sem nome...


Não sei quando lhe perdi o caminho de casa.

Sei que ao reencontrá-lo as suas palavras brotaram como pétalas baloiçando na suave brisa do mar.


Ei-la na magia que a sua poesia nos oferece...

 Pintura de Arthur Rackham



ah a cor da noite
de todos os animais
solitários. lenta aparição.
corações feridos na travessia
dos prados quietos.
sombras inclinadas ângulos
rarefeitos na treva.
o céu a tragar a treva
os ramais sem rumo.

cães acossados na nudez do lugar
atravessam a geografia do deserto
inteiro. em nebulosa romaria.

por dentro das grutas insones
pesam as pálpebras líquidas
despenhadas na ausência.

há os amantes no silêncio claro da lua.
nas peles desnudas tacteiam
um instante. um fim de solidão.

há mãos que derivam na escrita
nas sílabas crepusculares
intentando réstias de memória.

ah as vozes invisíveis

antigas no medo límpio.


sábado, junho 20, 2009

Olhos das palavras...

 Pintura de Ana Muñoz


Ao amanhecer um raio de sol
trouxe uma rosa branca
que ofereceu à lua e, lentamente,
entre os olhos das palavras,
esconde-se no céu da minha afeição.

Nas gotas do orvalho da manhã
as lágrimas dissipadas
são sementes do poema
endurecidas no desânimo de quem espera
o seu primeiro beijo de luz

Encarcerada na raiz do sentimento
a palavra é o sol desabado
o espelho sem reflexo
caído em pedaços na dureza dos sons…

Uma palavra esvaída na garganta da razão
a página branca de um buraco sombrio
onde a poesia é a fragrância que deixa entrar o Sol
e ilumina o meu coração…

(in Menina Marota Um Desnudar de Alma,
de Otília Martel, pág. 54)



domingo, junho 07, 2009

Instantes

 Imagem de Isabel Filipe


Tocar o céu
na bruma do desejo
infinito

Tocar o mar
nas ondas salgadas
da tua boca

Tocar a terra
no chão molhado
do teu corpo

E perder-me
nos teus braços
como quem perde
o último fôlego
de Vida…

Poema de Otília Martel
(Nickname Menina Marota)