quinta-feira, fevereiro 11, 2010

exercício espiritual



É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

Poema de Mário Cesariny,
in Manual de Prestidigitação (1981)



Imagem de Persida Silva

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Rosa Lobato de Faria

Não chores a dor da morte
Chora a alegria de ter vivido
A ternura murmurada
A palavra abraçada
O sorriso oferecido.

(Otília Martel)



Com que pedra de sal
com que promessa
com que pássaro solto pela casa
com que folha de louro
com que sonho
com que lua entornada no alpendre
com que livro de quem
com que sonata

temperarei a dor da tua ausência
o silêncio
o vazio na minha cama
os gritos do meu corpo
o pão por partir da minha alma

Com que chuva
lavarei o rumor dos teus passos
no magoado coração dos dias

Com que pranto
afogarei teu rasto
com que manto de lava
com que mar.

(excerto)
Rosa Lobato de Faria in A Gaveta de Baixo

(1932 - 2010)